segunda-feira, 11 de abril de 2011

Imaginários a contra luz: justaposições de eternos e personificações de caminhos

Um café, por favor. Não coloque açúcar, sem endossamentos por hoje!
Hoje a noite amanheceu primeiro do lado esquerdo. Do lado que possui 5 ângulos de aproximadamente 35o graus ou 25º cada um. Mas isso diz pouco, nunca fui bom em geometria mesmo. E nem me interesso. Estes aspectos dizem respeito apenas a uma localização espacial, temporal ou o que mais se candidatar a ser baliza. Era vermelho o ângulo esquerdo, esqueci de pontuar. Mas é isso...... balizamento de loucuras... Rs! Tudo precisa de um balizamento, e eu ainda prefiro assim.
Tudo tem uma lógica, por mais sem lógica que seja. Mas esta não é a teoria geral que vai nortear o agrupamento destes símbolos de hoje. Símbolos não. Só um também. Chega de plurais, pelo menos por hoje a noite. Se bem que amanhã também, não vai nascer dois sóis mesmo. Também nem espere achar a lógica tão facilmente por entre estas irresponsáveis vogais e consoantes. Por estes períodos obscuros tão cheios de mim.
 Irresponsáveis? Irresponsáveis sim! Ficam expondo, mesmo que translucidamente os meus subterrâneos. Nem gosto disso. Meu egoísmo me bloqueia a determinadas exposições. A exceção só existe quando meus jardins são regados a álcool. E isso não é sempre. Não mesmo. Mas até nisso existe um movimento. Um movimento bem definido: ao regá-los com este elemento citado acima não há necessidade de se escrever. As palavras-ações saem pelos ares, sem necessariamente ter qualquer relação com os papéis-canetas ou que instrumento se habilitar a sulcar em seu corpo os extravasamentos de meu interior. 
Queria uma ajuda, sabe? Não consigo ver as flores dos jardins nascerem quando eu molho-os com o imolhavel. Estamos tão habituados a regar nossos domínios com o dia-a-dia que quando alteramos as costumeiras progressões não enxergamos os crescimentos. Acho que é isso. Ou talvez esteja tão acostumado a ver crescer determinados tipos de ações que me prendi a determinadas esperas. Esperas sem chegada, é isso. Deve ser por aí. Contraditório, mas é isso.
Aí vem as perguntas. As perguntas que não necessariamente exigem respostas, afinal, sua função aqui não é esclarecer mesmo. Já falei em períodos anteriores sobre a lógica de determinados caminhos. Nem cabe retornar teorizações de milênios passados. Repito apenas que nem todo caminho possui um fim. As vezes caminhamos dentro do círculos, numa interminável leitura e ingestão de passados. Passados in-gestados e in-geridos. Passados num plural elevado a memória. É, elevado a memória com ranço de presente. A linha sempre se inicia do lado ao qual estou virado. Do lado em que apresento os meus braços/mãos de forma correta à posição do corpo. Assim, o norte e o sul perante a linha não querem dizer absolutamente nada! Voltemos aos caminhos sem fim...    
E este (o caminho!) não se torna uma dízima, não mesmo. Se ele se tornasse uma dízima, ele perderia a dimensão de mortal, de temporal. Não vejo tanta positividade em si pensar eternos. O eternos AQUI figura como uma progressão não necessariamente diferente, inovadora, mas continua, e até certo ponto repetitiva. Ao absorver noções de eternidade se perde muito dos detalhes que compõe o movimento de subir e descer de sóis e luas. E isso é um grande prejuízo. É bem mais significativo, para mim por exemplo, um beijo no pescoço do que quilômetros de subjetividades condensadas em símbolos chamados de letras. Mas ainda não é hora disto. Deixa eu me matar mais tarde! O quilômetro discursivo ainda não esta completo.   Eternizar caminhos e movimentações solares não é uma boa idéia. Perderíamos a essência de ser homem. De homem não perecível, e por sua vez, de ser homem. Homem, num sentido mais amplo do termo corresponde á busca incessante de um eterno, um eterno inalcançável justamente pela sua própria condição. A leve permissão, seja de que lado vier, desta condição automaticamente abandonaria a essência de ser homem. De ser homem caminhante, caminhável. A idéia de caminho pressupõe sinônimos de existência que não necessariamente correspondem a lógica humana do perecível. Pensar esta noção de eternidade na perspectiva do caminho, o próprio objetivo, o próprio caminhar não figura como uma meta. O fim, do caminho, é justamente o alcançável, o fim do caminho sempre chegaria primeiro do que o meu.     
Mas não estou com muita paciência em criar definições do que poderia ou não ser homem no âmbito das continuidades ou descontinuidade temporal de caminhos, luas e etc. Também já perdi um pouco a lógica inicial do texto mesmo.....
É o mesmo que incorporar todas as regras de comportamento vigente. Todos os métodos apresentáveis para andar em público do abrir do sol ao adormecer da lua. Falo assim numa perspectiva entendível ao maior numero de indivíduos que utilizam de forma adequada o seu aparelho respiratório. Agora!
Que sentido faria se saber tudo. Se padronizar perfeitamente? Se industrializar? Se globalizar? Se incorporar um padrão universal de se abrir e fechar olhos. Imagine. Um movimento cartograficamente vigiado e esquematizado que englobe as posturas do amanhecer ao anoitecer. E aqueles que não anoitecem? Que emendam a lua com o sol? Enfim.  Até gosto de quem vive por esta lógica. Os dias primeiro que as noites tem um sabor bem diferente das noites que nascem primeiro que os dias. Diga a verdade? Naquela noite que você voltou para casa com as pontas dos pés voltadas para trás seu dia não passou de forma melhor? A sua noite veio primeiro...foi isso. É bom se pensar assim nas segundas feiras. É! Só não por aqueles que inundam seus jardins com os derivados de...de...de....enfim...
Concluindo. Eu que andava tão desorientado. Atravessando o que não deveria, ao menos não pensava em atravessar. (Só uma ressalva: só existe uma parede a qual não consegui atravessar. Acho. E nesta eu acredito que não pensaria em nada absolutamente ao atravessá-la) Perdendo pedaços de mim por aí, em mundo de outros, dentro de outros. Em terrenos inóspitos. Num imenso desespero de pensar em qualquer possibilidade de não me encontrar inteiro em determinadas nos pouquíssimos momentos em que me encontro nos reduzidos quilômetros quadrados perto de você.
Nem sei viver desta forma. Nem sei se quero. Mas como diria a outra: é melhor que não sentir nada!
Aí no meio disto tudo você aparece e me da um beijo. Não um beijo qualquer. Um beijo no pescoço. Afrouxando com grande irresponsabilidade todas as cordas e amarras que outrora figuravam como senhoras absolutas deste espaço. É melhor não situar este espaço... Melhor assim. Quanto a ele só posso dizer que não tenho muita vocação para produzir doces vermelhos. O fato é que eu mundo sai do caos. Sabe? Sai. Saí.
E outra coisa ainda. Para fechar pisoteando em qualquer resquício de lógica destes meus parágrafos. Eu que reclamava tanto do peso de meu mundo, dos processos de colonização de mim, nem sabia que ao invés de um só mundo carregavas toda uma constelação nas costas!Todas, toda!

(Augustu, 11.04.2011_23:24 hs)


    
   

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Teorias de perda e ganho: sólidos atravessados e atravessáveis


Nem podia, nem devia. Mas esta não era a regra a ser seguida naquele momento. Já fazia tempo. É, Fazia tempo! Não muito ou pouco tempo: três séculos. Três séculos é a conta exata, seja em que estágio ou situação. (Lembre se disso, alguns entendimentos são tão universais quanto aos escuros a se pisar todos os dias!) ). Desde cedo já tinha tomado uns goles de coragem para poder atravessar a rua. Atravessá-la sem alguns dos objetivos traçados, sem um ponto específico a se chegar. Só atravessar e deixar as coisas correrem. Correrem.....
Tantos já me falaram, nas mais diversas situações, que a falta espontaneidade era meu pecado. Quando se aprende a atravessar paredes se esquece a função das portas! As portas tornam-se tão desnecessárias. Paredes espessas, muralhas, tudo é atravessável, depende de onde se quer chegar. Depende de sua capacidade de prever o outro lado.       
Deve-se sempre prever o outro lado. Deve-se sempre saber aonde se quer chegar. É regra geral das transições em teleporte. Não entendo muito destas definições. Nem sei por que a insistência em se saber certeiramente aonde se quer chegar. Não tem muito sentido justamente por que nunca ouvi ninguém falar que atravessando se encontrará o que se objetivou.
Do tempo que eu ainda estagiava passagens por paredes era perceptível ver a frustração das pessoas ao relacionar teoria e prática no final das experiências. Tenho para mim que a disparidade entre o desejado/objetivado e a realidade apresentada era justamente objetivo em si. O resultado.  Entender questões de contradições, frustrações sempre foram um problema a ser resolvido. Complicado, por assim ser. 
Acho importante se entender a constituição de sua parede, só você pode saber. Acredito que este seja o primeiro e um grande passo. Conhecer suas subjetividades materializáveis é muito importante, até pela particularidade. Existe uma infinidade de paredes, de linhas, de esferas, de escuros e de tempestades. Descobrir a composição das produções da primeira pessoa do singular é importante. Repito.
No momento em que você atravessa a parede com um objetivo em mente, muito do que você construiu fica do outro lado. Você se perde na transmigração. Só a essência continua intacta, sem alteração. É um exercício de descoberta. De reativação de áreas das memórias que o simples passar de portas não permitiria. Eu me pergunto por que este processamento todo, colocando o possível (fácil) em detrimento ao impossível (difícil). Não estou aliando estes termos de forma tão rígida. Só neste caso específico. Se fizesse isso o próprio atravessar de paredes seria uma utopia.
A desvantagem de se atravessar paredes é que elas acabam por entender os nossos desejos, a nossa forma de pensar. O contato entre corpos os torna um, independente do espaço de tempo de toque.  Pronto, é isso! Matei a lógica! Prever o outro lado ao atravessar os sólidos se justifica por que os sólidos não possuem subjetividades. Ao se atravessar muito de NÓS se perde no processo, dotando as paredes de nossos (nem sempre apresentáveis pensamentos!) A previsão é justamente a possibilidade a ser deixada, abandonada no processo. A surpresa do outro lado comprime e expande o interior, a essência do ser, de forma a não se perder totalmente as vivências no momento de passagem.
Por que todo este sistema no trato dos sólidos?
Hoje resolvi atravessar paredes, como disse: atravessar a rua. Ir ver, buscar uma possibilidade de um desconhecido. Numa probabilidade que nem me atreveria a expor aqui. Não encontrei nenhum por lá. Apenas paredes, paredes atravessáveis e atravessadas. Nem um sinal de destinatário. Vi apenas sua voz, batendo nas sólidas paredes. Não identifiquei de onde ela vinha, então desisti. Uma grande brincadeira de mau gosto dos sólidos ao meu redor naquele momento. Jogando minhas vontades embaladas nos sons emitidos pelas suas cordas vocais, batendo de um lado para o outro, não me permitindo enxergar a origem.
Recuei, recuei sim. Mas levando comigo o não-solidificavel.       
 Atravessei uma parede então. E errei em não pensar em nada sugerível no momento. O resultado? Meu coração se perdeu por lá, por outras dimensões...
Mas não acredito que ele tenha ficado na parede. Mesmo não tendo nada em mente naquele momento de passagem eu acho que sei para onde ele foi. Longe do interior da parede, e por conseqüência: longe de mim também!
  

(Augustu, 08.04.2011_00:36 hs)

terça-feira, 5 de abril de 2011

Estagiando relatos, desvirtuando desérticas mareagens!


Ontem a chuva foi pesada. Dos meus tempos de marinhagem nunca tinha passado por situação semelhante. Eu estava meio cansado dos trabalhos do dia anterior. O capitão queria que todos os compartimentos das embarcações fossem limpos e arrumados. Na verdade não era muito uma questão de limpeza mesmo. Quando se esta a tanto tempo sentindo apenas o balanço salgado das ondas a última coisa a se preocupar é em arrumação. Já estávamos todos acostumados a ver todo tipo de desumanidade por este mundo móvel nosso. Mundo diferente do que me ensinaram. Este sim, era quadrado, cheio de limites. Os limites eram líquidos, e os monstros dormiam sempre ao nosso lado, ao meu lado. Mas prefiro acreditar que, ainda, não era um deles...   
No convés da nossa nau não tinha muita bagunça. Não. As embarcações de segunda ordem eram as mais problemáticas pois eram as que traziam os mantimentos e outros utensílios.. As maiores, como a minha, a que eu era tripulante permanente, não possuía tantos problemas afinal era nau de carregamento, nau de carga. As naus de carga eram as estrelas de qualquer carreira. A minha ia em busca de pimenta. Carregamento aqui valia mais que a nossa própria vida. Era duro entender isso. Era uma vida no escuro, fria, cheia de submissões. Mas eu sempre aceitei, eu tinha meus objetivos. Poucos, mas meus. Apesar do preço a pagar.    
Sempre morei numa cidade litorânea. E cresci vendo o mundo através da voz dos homens que atravessavam as águas. Não possuía muita perspectiva onde estava e resolvi sair. Mas não sabia também aonde ir. Eles nunca gostaram de me ver brincando com meus grandes navios. Brincando de enriquecer. Brincando de encher nossos porões de pimenta e gengibre. Sempre que descoberto, meus sonhos acabavam por ter o mesmo sabor dos carregamentos de meus navios de sonhos que navegavam nos mares de meus desejos.
Hoje estou aqui. Navegando justamente da forma como brincava. Se eles me vissem agora diriam: “Vê onde você está? Vê que o seu sonho não é tão doce quanto o mel”. Mas mesmo assim me sinto feliz. Estou no caminho. Acostumei-me tanto a não ter os sonhos como fins em si que o caminho, o processo, geralmente sofrido, figura como o realizar. Talvez no fim desta jornada eu consiga mesmo o que eu quero. Talvez.  
Lembro-me do dia em que embarquei nesta companhia. Saí escondido. Fugi. O Marcelo me ajudou. Grande Marcelo. Não tinha tanta coragem quanto eu. Ainda mais depois de ouvir tantas histórias daqueles marinheiros malucos sentados na praia. Trarei uma sereia para ele. É, uma sereia! Sr. Capitão me viu na segunda fileira. Não me deixaram ir para frente. Tão franzino, morreria no primeiro combate. O seu dedo foi guiado apontado para mim. Não me pergunte por quem. A única palavra que me lembro do porto de minha querida Lisboa: “Você!”  Vontade de correr, de voltar para debaixo do limoeiro e remoer todos aqueles horizontes que se desenhavam pelo leve sopro  do vento nas pequenas folhas a minha frente. Mas meu limoeiro não me aceitaria mais em sua sombra. Ou batizava-me nas líquidas salinas do Atlântico ou iria para outro lugar. Longe dele. 
“Você quer vir comigo?” Que convite recusável. Vontade de correr. Mas foram tantos lados para si ir que acabei por subir justamente pela taboa que traçaria meu destino. Destino incompleto ainda.
Entrei na embarcação principal. Era a primeira que encontrei. Mas não deveria durar muito ali. Só a ponta da hierarquia daquela carreira passearia por aqueles corredores. Depois me levaram para outra nau. Já tinha algum conhecimento náutico. Fruto das intermináveis tardes de conversa com D. Joaquim, um velho marinheiro que enchia meu futuro de sonhos. Sonhos que traziam compartimentos abarrotados de pimentas e gengibre. Pimenta e gengibre! Que combinação para um sonho. Deveria mudar de foco, transformar estes objetivos. Mas apesar das produções da América serem as mais adequadas aqui as especiarias me renderiam mais, bem mais.
Na verdade tinha medo deles, dos Holandeses. O oeste do Atlântico era o lugar deles, segundo D. Joaquim. As histórias dos ataques me enchiam de pavor. Naquele tempo de limoeiro. Hoje apenas abrir os olhos me casa medo. Saber que amanheceu me causa medo! Doces ilusões passadas.
Já estamos navegando a dias. Perdi a conta, a noção do tempo. Quando se esta  no mar as simples referências que guiam qualquer homem na terra perdem o valor. Tudo parece ser eterno, circular, terrivelmente interminável.  Não vou tratar das noites. Não! Já é tão duro vivê-las, atravessá-las, que, pelo menos aqui, não vou falar delas. Desculpe-me.
Mas é isso, só isso. Ontem a tempestade quebrou um pouco a maresia da viagem. Há tempos que nada mudava a rotina, nada te fazia acreditar que estavas a bordo de um navio no coração do Atlântico sabe?  Atlântico tão turbulento nas palavras de Dom Joaquim. Hum. Estamos quase chegando perto do Cabo e o Atlântico nem se mostrou tão monstruoso. Há Dom Joaquim! Os mares não balançam mais como nas tuas histórias. Ou tuas histórias nestes mares acabam por ser uma inverdade que não me agrada!
Mas vou continuar observando. Devo lembrar-me de levar a sereia do Marcelo!   


(Augustu, 31.03.2011_22:50 hs)