quinta-feira, 30 de junho de 2011

Pentes de Pregos


Levemente os ventos convidaram-me a sentar no ponto mais alto dos meus domínios. Parei por alguns instantes a contemplar as irresistíveis correntes de pensamentos que me carregavam de um lado para o outro, sem definição de chegada, ou eu mesmo já pensava que não haveria chegada, e só caminho. Tratei de me compreender neste círculo.
Sabia que seria interessante quebrar aquela rotina de milênios: já não seguia o espontâneo fazia algum tempo. (Nem mesmo aqueles que tinham nomes fortes e bem próximos.) Pouco a pouco consegui subir, degrau a degrau, naquelas ondas de dispersões até chegar ao ponto almejado, pelo outro, por assim compreender ou até mesmo ser.
Um belo lugar num belo momento, o céu rasgava-se em diversos tons de um fim de tarde. Atravessando cores entre um rosa chá ao lilás azulado, num crescente fundo preto. Sentei-me numa das telhas, aquela que me dava uma maior segurança. Sei que uma queda dos meus pensamentos apagaria qualquer possibilidade de realizar um sonho das 17:30 horas ou algo do tipo. Deveria estar inteiro, no maior sentido do termo.
Esperei e esperei. Por alguns milênios fiquei ali, construindo um vazio, na fila do nada a espera do desfecho do convite. Por alguns instantes pensei em descer, confesso, mas daria muito trabalho me decepcionar com um vazio, dito improdutivo. Pré improdutivo. Sabia que não aconteceria muita coisa se continuasse imóvel e com frio vendo todas aquelas cores se esvaírem das minhas mãos-olhos.
Então, num grande gesto de coragem e insensatez passei meus dedos mais afiados por uma de minhas pernas e puxei, lascando, uma grande tira de mim. Ao esticar o meu EU percebi que os pensamentos, as cores e os ventos, com cheiro de telha molhada, faziam vibrar um som diferente. Meio triste, monossílabo, como os últimos séculos de maio e junho.
Me acostumei com aquilo, com o som. Então puxei mais uma tira e fiz um som diferente. Não era mais o outro que fazia o som em mim, de minhas mãos EU fazia o som em mim. E passei todo aquele resto de cores dedilhando o que se havia configurado como pedaços de mim. Sons que se construíam pelo passar do que vinha de fora, e apenas passava, com o que meus dedos conseguiam tirar com o movimento de meus dedos-olhos.
Já nem reparava mais que toda aquela aquarela-cenário havia sido desfeita no meu concerto sobre as desgastadas telhas. Havia apenas um fundo preto, negro e cintilante, com pedaços de mim voando, luzindo e zoando no caminho dos ventos, que passavam. Talvez nem saísse mais daquele lugar, daquela música. Talvez me desfizesse todo em tiras, sons e cores. Talvez virasse um outro convite ao vento, esperando que um outro indeciso subisse num precipício e pusesse em prática seus complexos mais insanos. Mas que ele soubesse, tanto quanto eu sabia, que todos os EUs-convites de vento passam.... só o som das tiras permanece. O som e as marcas....   

  (Augustu, 30.06.2011_23:20 hs)