Li a pouco uma postagem, nas
redes sociais, de protesto contra a greve dos professores estaduais baianos. Foi
a primeira manifestação discente que li nas redes sociais tratando de forma
negativa a paralisação dos professores da rede estadual, e com argumentos tão
rasos. Apontando apenas a questão salarial enquanto motivo maior de mobilização,
o que evidencia ou uma ignorância completa das bases do movimento ou o sucesso
da incorporação das visões forjadas pela mídia, disseminadas pelos canais de
comunicação do governo em especial, que pretendem descaracterizar o movimento
grevista utilizando a máxima, e velha conhecida: “Eles querem apenas um aumento!”
Não queremos apenas aumento
de salários! Apesar de ser merecido! Todos, ou quase todos, conhecem o
cotidiano das salas de aula para saber que os planejamentos feitos, as
atividades extra classe, e todo o acompanhamento pedagógico não corresponde
inclusive à cifra fantasiosa divulgada em um ou outro canal midiático. Pelo
visto, diante de tais comentários disseminados em algumas partes, o governo tem
tido êxito em suas divulgações...
Pelo contrário, fico feliz
em ver as inúmeras postagens, em especial de meus colegas de “História”
defendendo um futuro escolhido, e também dos outros estudantes que mesmo
reconhecendo o problema que está sendo a paralisação estão defendendo não a “classe
dos professores” mas um sistema de ensino pelo qual estão inseridos! Parabéns!
Por perceber que Educação não se constrói apenas sabendo a divisão dos períodos
históricos, ou as partes de um corpo humano ou ainda Regra de Três... mas na
formação de uma consciência crítica construída socialmente. Capaz de perceber
as fronteiras entre o Eu e o Outro e as suas interseções particulares. Respeito
também. Depois disso, a manipulação dos conteúdos tem o seu valor neste
processo! E, confesso ainda, me senti bem mais um sujeito histórico empunhando
um cartaz e me manifestando na rua em greves passadas – enquanto estudante
secundarista – do que lendo, dentro da sala, sobre movimentos reivindicatórios
nos confins seculares da História. Mas não pretendo desmerecer uma ou outra
experiência.
Devo dizer ainda que sou
fruto da rede pública de ensino em uma parte da minha carreira escolar – da
qual me orgulho muito! – e que enfrentei duas greves estaduais de professores,
uma enquanto secundarista no Colégio Modelo Luiz Eduardo Magalhães e outra
enquanto graduando do curso de Licenciatura em História na Universidade do
Estado da Bahia. Ambas as paralisações consumiram parte do tempo de minha
formação DE sala de aula – para ser compreendido pelos leitores mais simplistas
-, mas que caracterizaram de forma indelével e extremamente positiva o meu
processo de construção humana enquanto um período de “enxergamento” do Outro,
como dito anteriormente. Um outro que integra a mesma rede de direitos e
deveres da qual eu ocupo e que merece o mesmo direito a voz e manifestação que
eu. Acho que para além de outros ganhos, a greves na educação me possibilitaram
este entendimento. Ser mais humano, se é que me entendem.
O grande argumento que é lançado contra as
manifestações docentes toca diretamente na manutenção de salários. E isso a
mídia faz questão de divulgar (repito!) descaracterizando o movimento, uma vez
que leva o cidadão - que paga honestamente seus impostos – a pensar em direitos
de retorno de uma educação pública extremamente deficitária. Certo, voltamos à
sala de aula e vai continuar tudo como está. O fato de estarmos em sala de aula
não necessariamente irá confirmar que o seu dinheiro está sendo investido em
educação! O sistema de ensino público atual esta sendo satisfatório? Talvez
para quem apenas limita “Educação” a
estar em sala, esteja sim!
De minha parte, da formação
que tive e do lugar que ocupo, apoio sim a greve dos professores. Enquanto
aluno, digo que não podemos continuar fazendo de conta que nada está
acontecendo. Até em mudança de calendário letivo eu ouvi falarem em função da
Copa do Mundo! Me envergonho muito de um país em que os principais marcos referenciais
são a “mulata gostosa” e a “bola nos pés”. Não quero ser referenciado deste
modo enquanto existem países que gozam de índices invejáveis de níveis
educacionais, entre outros dentro das esferas sociais. Chega de colonização
mental e de passividade ignorante! Uma greve docente atrapalha um ano letivo
sim. Mas a aceitação do incitamento “à bola nos pés” (ou ‘pão & circo’... como
quiseres!) atravancou 500 anos de História!
(Felipe Augusto Barreto
Rangel, 10/05/2012)