Nota ao leitor: Ultimamente meus textos estão
cheios de necessidades novas. Necessidades como explicações técnicas. Sempre
fui muito técnico, muito metódico, e sabia deste defeito. Só que a técnica
agora acaba sendo positiva: ela nasce de uma imensa necessidade de deixar as
coisas o mais claro possível, o mais sincero. Para mim que vivi sempre nas
sombras... isso é uma imensa vitória.
Acordei
insuportavelmente balançado por algumas memórias distantes. Uma música, em
especial, me fez representar o presente de forma brilhante. O Erasmo e a Marisa nunca traduziram de forma tão bela o meu presente. Em meio
ao rolar das cobertas, do desenhar ocular das mesmas figuras na parede, do
espreguiçar lentamente saudando minhas velhas amigas – as telhas – fragmentos da
canção foram preenchendo sutilmente as lacunas das possibilidades de meu dia.
Trechos como:
Guarde segredo
Que te quero
E conte só
Os seus prá mim...
Que te quero
E conte só
Os seus prá mim...
As atividades então desenroladas
nem conseguem tirar este som da minha cabeça. Devo dizer também, aqui, que meus
escritos sempre foram cheios dos mais diversos sentimentos, verdades, falas
ocultas, não-ditos, não-pessoas... O de então não é diferente. Mas devo dizer
que ele vem carregado de algo, que se mostra relativamente inédito em todos
estes séculos. Ele vem dotado de coragem. Sinto-me corajoso, sabe? Talvez não
seja uma grande coisa, ao balizarmos com outras experiências. Mas me sinto corajoso,
principalmente para falar a verdade. Para caminhar no claro, sem a vigilância
desesperada buscando uma incoerência. Sinto-me corajoso para ir te ver sem
avisos cheios de medos...
Acho que começamos bem, quando
combinamos que nossos contatos deveriam ser permeados pela sinceridade. Estávamos
chegando de uma caminhada de machucados. Cheios de ferimentos mortais, por
conta de palavras mal-ditas. A sinceridade foi um remédio. Começamos bem, muito
bem.
Com esta coragem, eu me convenci
que era o mais certo a ser feito, a ponto de me expor da forma mais frágil
possível. Mostrei meus maiores defeitos a você, minhas inseguranças. Chorei.
Chorei duas vezes, intensamente. E fui imensamente compensado por essa verdade:
você me abraçou, no sentido maior do termo. Foi perfeito. Você é lindo.
Em alguns momentos eu me lembro
de antigas conversas com algumas companheiras de caminho, que me seguravam
quando eu achava que o supérfluo era o essencial. Falas do tipo: “Não demonstre que você gosta”, “Seja frio”, “Só dará valor se você ficar distante”... e uma série de outras com
a mesma natureza. Nunca o fiz. Nunca me vi atuando. Seria uma farsa. Chega de
farsas. Mesmo correndo o risco de me estilhaçar mortalmente eu nunca consegui.
Ainda mais agora, depois de todos estes sorrisos.
Sou frágil. Sei que as vezes pareço
chato, extremamente chato. Mas cuida de mim. Só este pedido. Eu me confio a
você.
Não vou ser frio, nem me
distanciar para garantir sua presença. Não tem sentido. Sei que você pensa
assim também. Principalmente quando diz “(...)
malditas sejam as lições aprendidas, pois minha vontade é me jogar (...)”. Acho
que o que mais me chamou atenção em você, nos primeiros anos, foi justamente a
visualização de suas cicatrizes. A não-vergonha de mostrá-las. A sinceridade de
me dizer que amou alguém, que foi muito intenso, e que as marcas não iriam ser
apagadas. No início, eu senti um grande ódio de mim, por te compreender tão
bem. De querer te abraçar mesmo assim. Mas a felicidade de ter visto esta tua
verdade foi maior. Bem maior que qualquer mesquinharia que eu pudesse fomentar.
Queria te dizer uma coisa. Abrir
um parêntese especial aqui. Existe uma grande verdade proferida pelos meus
lábios, maior que todas as outras que possam existir: Te quero. Te quero muito,
meu Leãozinho.
A
Renata traduziu o que sinto agora, também. Colocando a baixo, a golpe de
marretadas, todas estas teorias ridículas que a dor e os machucados me ensinaram
até então. Tributo a ela:
“O defeito de muita gente, é sentir saudade
e não correr atrás,
de amar e não admitir, de sofrer e não chorar.
O medo de
demonstrar nossos sentimentos
muitas vezes nos impede de ser feliz.” (Renata
Gomes)
Então...
mesmo reconhecendo-me como um ‘completo chato de galochas’ eu não vou suprimir
esta possibilidade de ser feliz. A agarrarei. Paciência comigo, outro pedido.
Mas eu vou correr atrás de tu, e não atrás do medo. Ainda mais por que eu ouvi
ontem “você vai para onde eu for”.
(Pausa. Riso bestificante me impedindo de continuar. 2 minutos só.) Eu
vou. Vou sim.
Só outra coisa eu queria deixar
registrado: ontem eu ganhei uma promessa. Uma bela promessa. Há um tempo eu
tentei propor um trato a você. Confesso que não me lembro da natureza do
pedido. Foi negado antes que eu colocasse minha idéia sobre a mesa, mas entendi
seu argumento. Era muito cedo ainda. Digo isso para que compreendas o valor
desta promessa de então.
Prometeu-me cantar uma música
todos os dias antes de dormir.
(Pause. Velho, sabe o que é
isso? O valor disso? Ele me prometeu cantar para eu dormir! A noite sempre foi
tão especial para mim. Um momento de transição, de mistérios, de sonhos... Já
estava bom ter ele todas as noites. Ouvir ele todas as noites. Mas ele me
prometeu cantar... todas... as... noites. Para mim. Sabe? Para mim! [rs] Pareci
como uma criança, que alguém havia prometido algo de muito desejado. Foi isso.
Mas o especial não residia unicamente na promessa, mas sim na certeza do seu cumprimento.
Seu lindo!)
Prometeu-me cantar uma música
todos os dias antes de dormir. A essência nem reside tanto na promessa, ou no
repertório... o especial é saber que te terei, minimamente, por alguns minutos,
antes de dormir. Isso sendo o mais pessimista possível. Você é lindo, em todos
os sentidos, meu Leãozinho. E a cada dia que passa, seus olhos figuram como um
belo e tentador convite.
Eu aceito. Eu vou.
(Augustu, 23.11.2012_12:07 hs)