sexta-feira, 8 de abril de 2011

Teorias de perda e ganho: sólidos atravessados e atravessáveis


Nem podia, nem devia. Mas esta não era a regra a ser seguida naquele momento. Já fazia tempo. É, Fazia tempo! Não muito ou pouco tempo: três séculos. Três séculos é a conta exata, seja em que estágio ou situação. (Lembre se disso, alguns entendimentos são tão universais quanto aos escuros a se pisar todos os dias!) ). Desde cedo já tinha tomado uns goles de coragem para poder atravessar a rua. Atravessá-la sem alguns dos objetivos traçados, sem um ponto específico a se chegar. Só atravessar e deixar as coisas correrem. Correrem.....
Tantos já me falaram, nas mais diversas situações, que a falta espontaneidade era meu pecado. Quando se aprende a atravessar paredes se esquece a função das portas! As portas tornam-se tão desnecessárias. Paredes espessas, muralhas, tudo é atravessável, depende de onde se quer chegar. Depende de sua capacidade de prever o outro lado.       
Deve-se sempre prever o outro lado. Deve-se sempre saber aonde se quer chegar. É regra geral das transições em teleporte. Não entendo muito destas definições. Nem sei por que a insistência em se saber certeiramente aonde se quer chegar. Não tem muito sentido justamente por que nunca ouvi ninguém falar que atravessando se encontrará o que se objetivou.
Do tempo que eu ainda estagiava passagens por paredes era perceptível ver a frustração das pessoas ao relacionar teoria e prática no final das experiências. Tenho para mim que a disparidade entre o desejado/objetivado e a realidade apresentada era justamente objetivo em si. O resultado.  Entender questões de contradições, frustrações sempre foram um problema a ser resolvido. Complicado, por assim ser. 
Acho importante se entender a constituição de sua parede, só você pode saber. Acredito que este seja o primeiro e um grande passo. Conhecer suas subjetividades materializáveis é muito importante, até pela particularidade. Existe uma infinidade de paredes, de linhas, de esferas, de escuros e de tempestades. Descobrir a composição das produções da primeira pessoa do singular é importante. Repito.
No momento em que você atravessa a parede com um objetivo em mente, muito do que você construiu fica do outro lado. Você se perde na transmigração. Só a essência continua intacta, sem alteração. É um exercício de descoberta. De reativação de áreas das memórias que o simples passar de portas não permitiria. Eu me pergunto por que este processamento todo, colocando o possível (fácil) em detrimento ao impossível (difícil). Não estou aliando estes termos de forma tão rígida. Só neste caso específico. Se fizesse isso o próprio atravessar de paredes seria uma utopia.
A desvantagem de se atravessar paredes é que elas acabam por entender os nossos desejos, a nossa forma de pensar. O contato entre corpos os torna um, independente do espaço de tempo de toque.  Pronto, é isso! Matei a lógica! Prever o outro lado ao atravessar os sólidos se justifica por que os sólidos não possuem subjetividades. Ao se atravessar muito de NÓS se perde no processo, dotando as paredes de nossos (nem sempre apresentáveis pensamentos!) A previsão é justamente a possibilidade a ser deixada, abandonada no processo. A surpresa do outro lado comprime e expande o interior, a essência do ser, de forma a não se perder totalmente as vivências no momento de passagem.
Por que todo este sistema no trato dos sólidos?
Hoje resolvi atravessar paredes, como disse: atravessar a rua. Ir ver, buscar uma possibilidade de um desconhecido. Numa probabilidade que nem me atreveria a expor aqui. Não encontrei nenhum por lá. Apenas paredes, paredes atravessáveis e atravessadas. Nem um sinal de destinatário. Vi apenas sua voz, batendo nas sólidas paredes. Não identifiquei de onde ela vinha, então desisti. Uma grande brincadeira de mau gosto dos sólidos ao meu redor naquele momento. Jogando minhas vontades embaladas nos sons emitidos pelas suas cordas vocais, batendo de um lado para o outro, não me permitindo enxergar a origem.
Recuei, recuei sim. Mas levando comigo o não-solidificavel.       
 Atravessei uma parede então. E errei em não pensar em nada sugerível no momento. O resultado? Meu coração se perdeu por lá, por outras dimensões...
Mas não acredito que ele tenha ficado na parede. Mesmo não tendo nada em mente naquele momento de passagem eu acho que sei para onde ele foi. Longe do interior da parede, e por conseqüência: longe de mim também!
  

(Augustu, 08.04.2011_00:36 hs)

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