segunda-feira, 21 de março de 2011

Etnologia de escuros e tempestades (fase de teste/gênese)

Esta noite o tempo fechou. Há alguns séculos já esperava que o tempo fechasse. Não completamente, mas se fechasse. Não tinha visto antes noite tão escura. Noite tão noite. E olhe que eu era/sou especialista em noites. Era noite de noite. O problema não era o contexto, a situação em si: a noite fechada. Já sabia bem como trabalhar noites escuras e tempestades. Achava. Basta se pensar em alguns princípios básicos. Coisa inata. Necessariamente inata. Os princípios, neste caso específico, eram meus. Meus mesmo.
No escuro, basta fechar os olhos. Regra básica. Todas as primeiras pessoas do singular sabem disto. O escuro interior acaba superando o exterior, regra geral. Basta saber, para não se cair numa armadilha ainda maior, conduzir seus escuros particulares (leia-se interiores). O domínio dos escuros interiores é imprescindível nestes casos. Ao se fechar e abrir os olhos, ao enxergar o dentro e o fora, percebe-se que os escuros de fora não tem o mesmo valor dos de dentro. Desde que os de dentro estejam resolvidos. Os escuros de fora, apesar de maiores, tornam-se insignificantes ao enxergar-se e reconhecer-se as possibilidades e potencialidades dos de dentro. Desde que previamente resolvidos, ressalto novamente. Faz-se necessário.
As tempestades obedecem a outra ordem de matizações temperamentais. Atemporais, deve-se saber. São mais potentes que os escuros. Bem mais. Só que também são domináveis. Os escuros mais problemáticos geralmente são externos. Vem de fora, este é o movimento. Os internos estão propensos a contornos. Feios contornos, mas sempre contornáveis, digamos assim. As tempestades são fenômenos construídos que não possuem chaves. Nos fenômenos de chaves você pode se quebrar todo, mas sabe que tem resolução. É só encontrá-la.
As tempestades não são fáceis. São fenômenos externos por natureza, vem sempre de fora para dentro. Você pode construir tempestades, só que não existe tempestades internas. Acho extremamente complicado se entender a lógica funcional das tempestades. E complica mais ainda por que só existem as terminologias, e as definições em categorias. Não existem teorizações nem análises que te dêem algum suporte sobre o assunto. Sabe-se apenas que quando se deparar com uma arrume a sua mochila, amarre suas sandálias o mais forte possível e se prepare para algo simultaneamente destrutível e fascinante. Destrutivo por que ela sempre vem e não existe qualquer possibilidade de desvio. Segundo por que você sempre a enfrenta sozinho. E terceiro, e último, por que necessariamente o que você colocar na sua mochila nunca vai ser usado. Só pesa nas costas. Só isso. E os motivos que a tornam fascinante obedecem à mesma ordem destrutiva. Quem disse que o fascinante não é destrutivo?? 
Só se identifica a tempestade praticamente. Esta é a grande miséria da história. Quando você abre os olhos o céu já esta totalmente escuro e todo o seu mundo esta vazio. Sabe aqueles filmes de suspense, ação ou até de terror americanos que sempre quando se quer passar uma imagem de deserto em algum determinado lugar mostra aquelas bolas de arbusto/espinho rolando acompanhada do vento que assobia e alguns grãos de poeira? Pois é. É assim. (rsrsrsrsrsrsrsrsr... é melhor parar por aqui para a história não tomar outros rumos!)
Existem tempestades de todos os tamanhos e potências. Tem as racionais, as irracionais, e uma infinidade de outras... Nunca compare tempestades, é um erro gravíssimo. Existem tempestades específicas para todas as pessoas do singular. Do plural não. Também não sei se existem tempestades coletivas. Não sei mesmo. Nem me interesso.
Me encontrei uma vez numa tempestade, acidentalmente estava no escuro também. (Na minha não teve bolinha de espinho rodando não. Fiquei chateado com isto. Queria tanto ver as bolinhas de arbusto rodando. Se tem que haver tempestade tem que ser o pacote completo. Tenho direito também! Deficiência de minha tempestade! (rsrsrsrsr)) Foi uma guerra. Uma grande guerra. Externa e interna. Era esta. E foi uma grande confusão.  Sou especialista em confusão. Acabo me divertindo com tudo isto. “O ser humano perfeito é desinteressante!” ouvi isto ontem. Nem sei a referência. O fato é que foi confusão para toda uma vida. Duas ou três, talvez. Mais não. Não era guerra de exércitos convencionais como as outras, apesar de terem várias pessoas envolvidas. Generais de outros mundos, exércitos, abraços e, por que não, de escuros e tempestades? Tinha um general tatuado?!?!? E um general cor de rosa!?!?!? (KKKKKKKK) [Obs. Virou graça a história, quando tudo esta manuscrito a coisa ainda é séria. Ao digitar eu perco totalmente a essência inicial de tudo. Aí acaba mudando a lógica das coisas... não resisto a uma presepada!]
Não pretendo aqui descrever nem com metáforas e nem muito menos literalmente tudo o que aconteceu no desenrolar desta guerra/tempestade em que entrei. Só posso dizer que entrei, mas consegui sair. Quebrado, mas saí. Acho! Me falaram que não havia acabado, mas enfim. Não consegui vencê-la da forma como queria. Mas meu querer nem sempre é o certo, o correto. Também nem sei o que é certo ou correto. Eu que determino as minhas verdades sobre os objetos. E me sinto muito satisfeito com isto! Nem tudo acaba como eu quero. Nem tudo acaba. Se fosse assim haveria uma transposição de mundos. Do meu mundo. Dos meus subterrâneos para o externo. O outro lado do espelho. Tenho consciência que as outras pessoas deste círculo específico, não teriam competência nem habilidades suficientemente plásticas para se adaptarem num espaço tão pequeno de tempo. As minhas criações são destrutivas. Algumas. Algumas até a me derrubaram. Tentaram tomar o poder. Neste caso eu peguei a borracha (chave!) e resolvi o assunto. Lamento ter perdido aquelas criações. O fato é que nas minhas esferas de vidro só eu não me sufoco. Acho. Pelo menos estou vivo até hoje. Até hoje.
Esta tempestade era baseada em interpretações. Nas minhas problemáticas interpretações. As tempestades de interpretação não são assim tão, tão, tão...... sei lá. Perdi o termo agora. Digamos que elas não são tão dignas de grandiosas batalhas a ponto de gerar grandes heróis. Pronto. As de interpretação podem ser meio ridículas. Podem. Mas não deixam e ser tempestades.  A verdade é interpretada, e aí que começa a brincadeira. Desgastante brincadeira. Lapidável também, depende do prisma de análise. Ao se deparar com a verdade, a verdade verdadeira mesmo, cinco ou seis pelo menos, isto é regra geral, se dissolve em diversos complexos interpretativos. È como num engenho. O material bruto entra por um mesmo lugar. Passa pela roda. Por alguns processos originando vários elementos diferentes. Todos oriundos a mesma fonte. Mais diversos entre si. Geralmente escolhemos o pior para respaldar nossas tempestades. O bagaço. Também não sei por que.
Esqueci de uma coisa. Tenho esquecido de coisas importantes ultimamente. Felizmente. A depender do lado em que se olha, tanto escuros como tempestades podem ser boas ou más. Depende também dos conceitos que você utiliza. Tudo é relativo. Só os estragos são mensuráveis. Só eles. É o que há de mais concreto em tudo isto. Estrago do que é ruim e estrago do que é bom. Alguma dúvida quanto a isto?? Pois bem.
Esta minha tempestade era relativamente boa. Enquanto durou. Era uma guerra, mas era boa. A dúvida era boa. Sei não viu, sei não. Era boa. Até que chegou o dia de se inverter tudo. Tive a idéia maldita de virar o lado da moenda (do engenho!) Maldita? Sei lá! Tudo se inverteu. E o que era bom/ruim se dissolveu. Todas as cinco ou seis verdades. Todas as esferas de vidro também. Acabou. Para a minha surpresa virou tudo escuro. Então eu, com minha mania de precipitação e com a fundamentação de escuros anteriores fechei rapidamente os olhos. E ao abrir, literalmente, tudo acabou.
Acabou?? Sei lá........ acho. Também, nem me interesso!

(15 de junho de 2005 – Aula de Inglês - Colégio Modelo – 8:35 hs)

                                  

           

Um comentário:

  1. Incontroláveis tempestades interiores...
    Adorei o texto. Parabéns Augusto!!!

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