quarta-feira, 23 de março de 2011

Honra aos desconhecidos imaginários!!


É interessante se pesquisar/analisar os imaginários que se constituíram principalmente antes do século XIX. Acho super interessante pensar alguns aspectos antes da chegada do Oitocentos. O incrível é identificar as continuidades. As pessoas e ocupações podem até se remodelar, modificar (não gosto do termo evoluir!) mas os pensamentos, as rotulações são as mesmas. Mas o que seria destas construções, destes construídos, se não houvesse aqueles que as considerassem como erradas? Elas não prosseguiriam, não dariam um sabor diferente ao cotidiano, tanto delas quanto dos outros. Os outros. Não necessariamente um sabor doce.
 Meu enfoque principal é no grupo daqueles que eram considerados transgressores da ordem dita “normal”, da moral e dos bons costumes. Principalmente no que concerne ao âmbito espiritual. Deviam ser pessoas fascinantes. Capazes de criações, de exteriorizações tão... tão... tão anti-normativas, digamos assim. Capazes de chamar atenção de todo o além mar, por ser o centro de referência do grandioso, do desconhecido. Capaz de mexer na ordem de tal forma a ponto de atravessar os oceanos. Não em vassouras! Isso não.
Os enquadramentos sociais sempre foram capazes de gerar grandes figuras. Grandes mesmo, no sentido maior do termo. Mesmo que às custas de muito “sufocamento” e desespero nas fogueiras dos autos de fé. Não é bom trabalhar nesta lógica, principalmente se pesarmos aqueles que entraram na brincadeira por engano. No escuro só se identifica uma cor. Não?
Vejo que uma das grandes conquistas humanas, ao que se refere ao exterior, seja a perpetuação de seus atos pelos séculos. Os séculos dos séculos, independente do lugar em que se ocupou, ocupava. Mas muitos dos que nomeavam seus companheiros de temporalidade em transgressores não tem seus nomes registrados pelos mapas da História. Por serem tão certos, tão corretos, se perderam por entre o marulho do tempo, por entre a movimentação insuportável dos grãos da ampulheta.
Aos que se propuseram a traçar sobre si o diferencial, mesmo que à custa de metros de derme marcada, ferrada e esfacelada, meu respeito por esta noite. A eles que provocaram a necessidade de criação de tantas instituições de controle, desde o medievo à modernidade (Não me atrevo a mergulhar mais fundo na regressão dos séculos por falta de domínio), alguns minutos de meu tempo.
Todos eles, com sua simplicidade de ações, desencadearam grandes movimentações. Medo? Pavor? Receio? Acho que não. O medo interior geralmente é maior que o exterior, excluindo as generalizações. Gosto dos plurais apenas quando pretendo enlouquecer alguém.  E só! Mesmo que este não seja exposto. Cada um sabe navegar dentro de si mesmo. Ninguém se afoga nas próprias lágrimas nem se sufoca nas esferas que cria. Mesmo as mais espessas, inquebráveis, intransponíveis.
Atos, talvez, para se vencer uma necessidade básica de um único dia, atravessaram os séculos em intermináveis interrogatórios, em antigos processos, relatos e relatórios (num caso específico!). Movimentando anseios em toda uma extensão de águas. Águas salgadas, por assim ser/dizer. Na mentalidade: eles atravessavam paredes, conversavam com o além visto, voavam sob a lua, dominavam o desconhecido... Tanta coisa. Incrível a mente destes criadores de transgressores. Só não tão incríveis a ponto de visualizarem o entorno sem a carapaça tradicional dos séculos. Que foi capaz (e é ainda!) de dizer que algo verde era/é vermelho e ter uma grande aceitação de todos. Tudo é um grande imenso jogo de interesses. De se dormir e acordar.
“Realmente, como pude me enganar? Sempre foi vermelho, eu sabia!” (João, 2004 [lembrei viu? Rsrsrsrsr])             
Eles não atravessavam paredes, apesar de poderem ver além das muralhas dos olhos de alguns homens. Homens certos, é bom pontuar. Eles não conversavam com o além, apesar de muitos conhecerem o próprio interior e isso não é tarefa muito fácil. Fácil de realizar, no singular. Mas no singular apenas sob os olhos do primeiro numero primo! Quanto ao voar sob a lua, este talvez fizessem e eu acabo por me contradizer acreditando nisto. Lamento apenas que os últimos vôos de alguns, só de alguns também, tenha sido ao redor do brilho de algumas faíscas nas grandes praças imundas, ao deleite dos grandes prédios guardiões dos padrões e controles da bela e incorruptível sociedade. Lamento também o último atravessar de sólidos, não de paredes mas da espessa fumaça tanto cinza como amarelo-quente-alaranjado.
Quanto ao domínio do desconhecido eu fico em silêncio. Não se pode tratar de tudo, não é mesmo? Afinal, configura-se como desconhecido, não revelado. Cada um tem seus sonhos guardados nos subterrâneos. E devem procurar manter alguns classificados nesta terminologia. Esta é a graça de se dançar nas labaredas, esta é a graça de se instigar interpretações, mesmo que equivocadas. Esta é a graça de se induzir a criação de imaginários e atravessar os séculos. Engolir a ampulheta, numa tacada só!   

Um brinde aos construtores de imaginários!

(Augustu, 23.03.2011_22:14 hs)

Nenhum comentário:

Postar um comentário